"Within design, our challenge is not just to seek feminist ways of collaborating but also to collaborate to transform the discipline itself."
"Within design, our challenge is not just to seek feminist ways of collaborating but also to collaborate to transform the discipline itself."

POWER TOOLS

para uma pedagogia feminista em design

SOBRE

O workshop POWER TOOLS componente prática da dissertação Por uma Pedagogia Crítica: contributos para uma prática de ensino feminista em design de comunicação (Raquel Gomes, 2024, mestrado em design de comunicação/FBAUL), procurou ser um contributo para o repensar de práticas de sala de aula e de aprendizagem mais inclusivas.


POWER TOOLS implementou a sistematização dos princípios e técnicas investigados, de forma a propor um modelo que possa ser partilhado, replicado e adaptado a outros contextos de ensino. Tendo como base a criação de exercícios que introduzam conceitos ou ideias que problematizam o ensino em design de comunicação, analisou-se a disciplina segundo uma perspectiva feminista interseccional. Através de uma prática crítica, reflexiva e propositiva, o workshop procurou preservar um carácter lúdico que é fundamental para a desconstrução de modelos hierárquicos de ensino e para desformatar as lógicas de racionalidade que imperam na sala de aula convencional. Realizado com alunas do 3.º ano da licenciatura e do mestrado em design de comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL) (ano lectivo 2023-2024), entendeu-se o workshop como um projecto de exploração e observação de novas dinâmicas de aprendizagem cooperativa e comunitária, na procura de alternativas às práticas pedagógicas convencionais e oficiais do design de comunicação.


Esta plataforma online permite aceder a todos os materiais utilizados no workshop, num espírito de democratização e partilha do conhecimento.

schools

sessão #1

INTRODUÇÃO: DO MODERNISMO À INTERSECCIONALIDADE

exercício #1:

SITUATED KNOWLEDGE MAP
Através da exploração do conceito de conhecimentos situados segundo Donna Haraway e da realização de um pequeno questionário (adaptado de Designing Gender: A Feminist Toolkit (2024), p. 113), pedimos às participantes que tomem consciência da sua posição enquanto indivíduas, designers e alunas, relativamente aos sistemas intersectantes que constituem as desigualdades e opressões (género, sexualidade, classe, raça, etnia, idade, capacitismo, etc.), e que estabeleçam uma relação (ainda que breve e ténue) com os seus processos individuais de design, numa tentativa de perceber que todo o conhecimento é situado – dependente do contexto sócio-cultural – o que não exclui a disciplina do design. Este exercício enquadra-se nesta sessão, não só porque se relaciona com as temáticas que a seguir serão exploradas na parte teórica, mas também porque serve para que as participantes tomem consciência de si próprias e das restantes.

assuntos #1:

MODERNISMO, NEUTRALIDADE E UNIVERSALIDADE
INTERSECCIONALIDADE, CONHECIMENTO SITUADO E PLURALIDADE
Sendo o tema principal do workshop a integração de princípios feministas interseccionais nas práticas pedagógicas de design, é importante começarmos por explorar alguns assuntos-chave inerentes a este tema. Como tal, nesta sessão, começamos por explorar o dogma do modernismo e as noções de neutralidade e universalidade presentes na disciplina do design, para depois ir de encontro a alternativas, através da exploração das ideias de interseccionalidade, conhecimento situado e pluralidade. Esta exploração de assuntos é feita através da análise e discussão de citações das autoras Alison Place e Griselda Flesler, Anja Neidhardt e Maya Ober. Os assuntos servem, deste modo, para para introduzir a temática geral (princípios da pedagogia feminista aplicada ao ensino em design de comunicação) e, como tal, é importante começar por reconhecer quais as problemáticas que levam à necessidade de repensar a educação em design de comunicação, para depois discutir quais as abordagens que as podem contrariar.

sessão #2

FEMINIST DESIGN POWER TOOLS:
DO PENSAMENTO CRÍTICO AOS MODOS DE CRÍTICA INSTITUCIONAL

assuntos #2:

PENSAMENTO CRÍTICO, DESCONFORTO E TRANSFORMAÇÃO
MODOS DE CRÍTICA INSTITUCIONAL
Nesta sessão debruçamo-nos sobre os conceitos de pensamento crítico, desconforto e transformação na disciplina do design. Seguidamente, exploramos a noção de modos de crítica institucional que será o mote para o exercício #2. Trata-se, portanto, da continuação da exploração de princípios e estratégias da pedagogia feminista aplicada ao ensino em design, mas desta vez, para além de reconhecermos e identificarmos problemas no ensino e de encontrarmos na interseccionalidade alternativas, iremos identificar estratégias de crítica a que nós, enquanto alunas, podemos recorrer. A exploração destes assuntos partem da análise e discussão de citações das autoras bell hooks, Griselda Flesler, Anja Neidhardt e Maya Ober, e Ramia Mazé.

exercício #2:

FEMINIST DESIGN POWER TOOLS: TOWARDS A PREFERRED FUTURE
Pedimos às participantes que, através da leitura e análise de duas citações, uma sobre o acto de citar na academia e outra sobre feminist design power tools, reflictam sobre modalidades de crítica institucional e ferramentas feministas de poder na disciplina do design. De seguida, cada participante pensa sobre o que poderá ser a sua própria ferramenta feminista de poder, no contexto da prática ou do ensino do design. Propomos um jogo ilustrado para mostrarem a sua ferramenta escolhida, com tempo de resposta curto (cinco minutos para cada participante pensar na sua ferramenta e a desenhar), e de adivinha (cada participante mostra a sua ilustração e as restantes tentam adivinhar), seguida da apresentação das ferramentas (porque a escolheram, como a usam e como a definem). O propósito deste exercício é descondicionar as nossas práticas de ensino e aprendizagem, saindo do modo de citação e da dimensão reflexiva, uma vez que pretendemos quebrar com ciclos viciosos de aprendizagem. A limitação de tempo para responder ao exercício tem como objectivo que as participantes se libertem das lógicas de sucesso na sala de aula, que incutem práticas individualistas e de competição e o medo de falhar. Por último, colectivamente pensamos numa forma de divulgação das ferramentas idealizadas por cada participante e como outras pessoas poderão contribuir para este toolkit criado por nós, ou seja, procuramos uma forma de partilhar estas estratégias feministas, para além do contexto do workshop.

sessão #3

FEMINIST SPATIAL PRACTICE:
DA SUBJUGAÇÃO ÀS PRÁTICAS DE CUIDADO

assuntos #3:

SUBJUGAÇÃO E INDIVIDUALISMO
TOMADA DE PODER E (CRIAÇÃO DE) COMUNIDADE
PRÁTICAS DE CUIDADO
Abordamos os conceitos de subjugação e individualismo na disciplina do design, passando depois à exploração de ideias que os contrariam como tomada de poder e (criação de) comunidade e, por fim, práticas de cuidado. Novamente, esta sessão é uma continuação da anterior, uma vez que desenvolve a exploração de estratégias que pretendem contrariar os efeitos nocivos da cultura da disciplina do design (como a competição, individualismo, precariedade, entre outros). Para tal, analisamos e discutimos citações das autoras bell hooks, Lynne Webb, Myria Allen e Kandi Walker, e Alison Place. Estes assuntos informam o exercício #3.

exercício #3:

FEMINIST SPATIAL PRACTICE: CLAIMING THE CLASSROOM
Tomando como mote operativo a prática feminista do espaço e tendo em conta as as noções de autoridade e poder e como estas são reflectidas na articulação do espaço da sala de aula, vamos repensar a sala de aula*, procurando recriá-la através de estratégias feministas que contrariam estas noções. Este exercício pode começar, por exemplo, com uma intervenção simples na disposição da sala de aula e também podemos servir-nos das nossas feminist design power tools, criadas no exercício #2. Podemos pensar na criação de pequenos nichos ou pequenos espaços na sala de aula que fossem de encontro às necessidades das participantes e alunas, ao invés de servirem as lógicas do ensino e das professoras e identificar esses espaços alternativos. Também podemos reflectir sobre a materialidade e simbolismo da porta da sala de aula, a política de porta aberta que convida à participação de outras pessoas na partilha e criação de conhecimento e a um olhar sobre o mundo para além da escola. A intervenção no espaço da sala de aula é simbólica, mas também performativa e o objectivo é que, em conjunto, encontremos estratégias que nos encaminhem para a criação de comunidade na sala de aula, de práticas de cuidado e de agência. No final da intervenção fazemos registos fotográficos e pensamos em estratégias de comunicação desta intervenção.


* No contexto inicial do workshop esta sala diz respeito à sala 4.05 da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, onde as alunas do 3.º ano da licenciatura em Design de Comunicação passam a maior parte do seu tempo em aula e que, por isso mesmo, acarreta um peso simbólico que foi proveitosamente explorado enquanto experiência social durante o exercício #3.

A citação "Within design, our challenge is not just to seek feminist ways of collaborating but also to collaborate to transform the discipline itself." é de Alison Place, retirada de Feminist Designer: On the Personal and the Political in Design (2023), p.2.

POWER TOOLS: para uma pedagogia feminista em design vem no seguimento do projecto Redesigning Design Education: Unlearning Strategies, realizado no 1.º ano do mestrado em design de comunicação na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

"Within design, our challenge is not just to seek feminist ways of collaborating but also to collaborate to transform the discipline itself."
"Within design, our challenge is not just to seek feminist ways of collaborating but also to collaborate to transform the discipline itself."